sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Kusari Fundo


Pouco se sabe sobre a origem da corrente de metal; o ferro foi descoberto na China em 2.000 AC, porém somente séculos mais tarde foram usados com maior abundância quando se descobriu como extraí-lo do seu minério e fundi-lo. Possivelmente somente após o século XII a corrente tenha sido exportada para o Japão. A partir daí muitas armas foram criadas por necessidade e outras acidentalmente ou adaptadas com ela. Muitas dessas armas são conhecidas e utilizadas para treino nos dias atuais, enquanto outras se perderam no tempo e não mais foram vistas. Uma
delas, pouco conhecida e treinada em raríssimas escolas marciais é o Kusari Fundo (corrente lastreada), também conhecida como Manrikigusari (corrente com força de 10.000), uma simples corrente (Kusari) de vários comprimentos (normalmente entre 45 cm a 90 cm) e lastreada com um peso (Fundo) em cada extremidade. Pouco se sabe sobre a origem da corrente de elos e, conseqüentemente, dos artefatos que a utilizam. Possivelmente a maioria das armas conhecidas hoje com corrente foram anteriormente usadas com corda em seu lugar.

De acordo com um documento histórico, há um tipo similar ao Kusari Fundo chamado Konpi (Kon significa “ferro” e Pi “voar”) que foi usado como arma na Era da corte de Yoshino (ao redor 1350 d.C.). Existe ainda outra arma que possivelmente tenha sido oriunda da Konpi chamada Konpei, e outras formas foram criadas posteriormente com diversos nomes como o Gekigan ou Tamagusari, Fundogusari, Ryobundo Kusari, Sodegusari, Kusarijutte, Kanamari e inclusive o Manrikigusari e cada qual foi desenvolvido e utilizado de acordo com a arte marcial praticada.
No Kobudô de Okinawa também existe uma variação chamada Surujin (originalmente uma corda ou corrente mais longa que o Kusari Fundo lastreada em uma extremidade com um peso e na outra, com algum tipo de empunhadura, lâmina ou espeto) Essas armas são classificadas como Kakushi Buki Jutsu (arte das armas marciais secretas).
Poucos dados e informações contundentes sobre essa obscura arma foram encontrados, e quando algum fato é descrito em documentos e preservado até os nossos dias, acaba sendo naturalmente o tutor da origem dessa arma.
É o caso do Manrikigusari da Masaki Ryû (única escola remanescente especializada nessa arma). Outras escolas incluíram seu uso no currículo como é o caso da Hoen Ryû Taijutsu, Shuchin Ryû, Kyoshin Meichi Ryû Kenjutsu/Iaijutsu, Toda Ryû Kenjutsu, Shindo Ryû Jujutsu, Hikida Ryû Kenjutsu e Togakure Ryû Ninjutsu, Gyokushin Ryû Ninjutsu hoje encabeçada pelo Sôke (sucessor) Dr. Masaaki Hatsumi.

Há relatos que o idealizador dessa arma foi um Samurai da época, habilidoso espadachim com licenças de Naginatajutsu (Alabarda) de Seni Ryû e Kotoda Itto Ryû Bujutsu chamado Dannoshin (Tarodayu) Toshimitsu Masaki, nomeado sentinela chefe para a proteção do portão principal (Otemon) do Castelo de Edo (Tokyo). Eram responsabilidades de Masaki e seus discípulos, vigiar contra a intrusão de bandidos e outros inimigos. Masaki percebeu que se houvesse uma tentativa
de invasão ao portão, certamente resultaria em derramamento de sangue desnecessário.
As convicções de Masaki ditaram que tais batalhas sangrentas não deveriam acontecer, pois mancharia de sangue um importante e famoso portão considerado um local sagrado, contudo, o portão do castelo deveria ser defendido a todo custo. Com isso Masaki, durante algum tempo, estudou que tipo de arma seria mais apropriado. Por razões desconhecidas ele decidiu que o uso de uma corrente seria de alguma forma muito satisfatório, não só para defender contra inimigos desarmados, mas também armados. Assim ocorreu o nascimento do Manrikigusari.

Masaki então ensinou as técnicas de corrente aos seus discípulos e estudantes de espada, e fundou o Masaki Ryû. Em pouco tempo essa arma tornou-se proeminente em todo Japão. Pessoas surgiram de todos os cantos do país para conhecer e aprender as técnicas e segredos do Manrikigusari. É relatado que antes de Masaki apresentar ou ensinar suas técnicas de Manrikigusari a qualquer interessado, sempre instruía o adepto que o Manrikigusari não era para ser aplicado desnecessariamente e que só deveria ser utilizado com retidão. Masaki advertiu que a pessoa que o utilizasse para o mal, se destruiria física e espiritualmente. É dito que Masaki se curvava em forma de respeito ao apresentar o Manrikigusari, e com uma oração buscava transmitir um espírito bom nisto antes de apresentá-lo a alguém. Em seguida foi adotada a arte de Manrikigusari aos Samurais da Sede de Ogaki (Cidade de Ogaki, prefeitura de Gifu).

Hoje a Masaki Ryû é encabeçada pelo 10º Sôke (sucessor), Yumio Nawa que recebeu a tradição de seu avô 9ª Sôke Nawa Toyotoshi (um samurai do domínio de Mino-Ogaki encarregado da segurança regional) que introduziu uma arte complementar, chamada Edomachikata Jutte Torinawa Atsukaiyou (arte do porrete bifurcado e corda para aprisionar) no programa de Masaki Ryû. Em Tokyo Sensei Nawa transmite a arte a um número pequeno de alunos; é um prolífico escritor e consultor da cultura do período dos guerreiros japoneses. Além do Manrikigusari, Sensei Nawa também e conhecedor de Kusarigama (Foice com corrente) Jutte e Torinawa. É sabido que os Ninja praticaram um método aparente ao Kusari Fundo, o Shinobi Tenugui No Jutsu (técnicas de Ninjutsu de empregar uma toalha curta como uma arma) embrulhando uma pedra no fim ou no centro da toalha e carregavam esta arma ao redor de sua cintura ou escondendo-a dentro de sua roupa, como também a arte de usar o Sageo (corda de segurança da bainha “Saya” da espada) atado a alguma arma ou objeto.

Um golpe com um Kusari Fundo é devastador, a força gerada no giro dessa corrente lastreada é realmente impressionante e fatal. Por isso hoje ao treinar em um Dôjô (sala de treino) devem ser usadas Kusarigeiko (arma de treino), uma corda com nós nas extremidades ou Obi (faixa). Isto nos faz alcançar segurança e habilidade para usar objetos triviais como arma para autoproteção

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