sábado, 20 de outubro de 2007

A ciência do Taijutsu moderno


O Taijutsu é subdividido em várias seções. Uma delas, exclusiva do Ninjutsu (a arte Ninja) é chamada Taihenjutsu (a arte de movimentar o corpo), na qual são treinados rolamentos, saltos, esquivas, posturas, formas de caminhar, e outros.
Culturalmente, a prática marcial tradicional, ainda hoje, é vista como rígida e metódica. No passado, o treino marcial era ainda mais rígido, sendo que o mestre ensinava e o aluno repetia, sem jamais questionar qualquer exercício ou técnica.
Nos dias de hoje, embora ainda rígido, no treinamento os alunos encontram liberdade para perguntas e discursos saudáveis, e um professor bem preparado pode expressar a teoria implícita em determinado exercício ou técnica mostrada.
Usando as ciências, como por exemplo a Biomecânica e Cinesiologia, pode-se mostrar o “porquê” de uma postura ou movimento, e como deve este ser feito para melhor desempenho do golpe, evitando o desperdício de energia. Com a Anatomia e Fisiologia, esclarece-se o efeito de um golpe
em um determinado local do corpo; com a Física mostra-se as leis da natureza de uma forma aplicada, como por exemplo a força centrifuga e centrípeta, atração gravitacional, ação e reação, contração e expansão... Ou seja, arte marcial é uma ciência, e sempre foi!
Se eu perguntar ao leitor desse texto porque praticaria artes marciais, a sua resposta poderia ser “para me defender”, “preciso perder uns quilinhos”, “quero melhorar minha flexibilidade” ou “meu sistema cardio-respiratório”, etc.... ótimo, mas tudo isso é conseqüência da prática. Porém, se você tiver que aprender todas aquelas técnicas de golpes, chutes, alavanca, esquiva, salto, rolamento, arremesso, etc., você na certa responderia que isso se aprende com o tempo. Exatamente! Volto a dizer: isso tudo é conseqüência! Você poderá aprender milhares de técnicas e movimentos, mas não passará de um “robô”, programado a fazer tudo isso. Todavia, no Taijutsu, o treinamento não se limita à simples prática de técnicas ou exercícios físicos, mas trazem o mais importante, não somente para a prática marcial, mas para qualquer atividade da
vida, que é o Tairyôshin (consciência corporal).
Dessa maneira, o corpo se organiza, e tudo fica muito mais fácil. Não podemos mudar nossa própria natureza, ou melhorar nossa constituição, através de uma simples atitude voluntária consciente, mas podemos resgatar nosso conteúdo original. Somos seres de um potencial enorme, e não sabemos usufruir dele, por não termos consciência de nós mesmos. Podemos, através do Tairyôshin, nos tornar mais íntimos de nosso corpo, saindo do caminho de regressão física que o ser humano se encontra.
Vejamos algumas seções importantes dentro do treinamento:

Respiração e Mentalização

É sabido que podemos ficar semanas sem comer e dias sem beber, mas apenas alguns minutos sem respirar, o que mostra a importância da respiração. Reeducando nosso modo de respirar, mudamos o trabalho do cérebro e ganhamos o controle sobre o sistema imunológico e a saúde mental. Através da mentalização (imagem mental), que resulta na tensão inconsciente dos músculos apropriados e na concentração, o sangue carregado chega até um lugar designado, promovendo a saúde e o bem estar geral, podendo inclusive ter efeitos mais profundos, em nível orgânico, hormonal, psíquico e energético.

Tonicidade

A tonicidade trabalha no relaxamento e distonia da musculatura. O objetivo da prática é fazer com que possamos usar as atividades dos músculos sem desperdícios, aprendendo a relaxá-los e tencioná-los quando necessário, mantendo o corpo desbloqueado.

Flexibilidade e força

“Quando o homem nasce ele é flexível e mole, morto ele é rígido e duro”.
Nos exercícios do Taijutsu (Jûnan Taisô), trabalhamos sobre dois tipos de músculos:
Fracos – São fortalecidos através de exercícios repetitivos, com rápidas contrações e relaxamentos ;

Retesados – Tornam-se mais flexíveis, através de exercícios de estiramento relaxado, mantendo a postura, alongando determinados grupos e articulações, enquanto se relaxam outros.
A força é produzida através da flexibilidade e exercícios naturais. Os músculos e articulações são exercitados para acentuar suas qualidades e força natural, sem exageros.

Equilíbrio e centralização

É semelhante à arquitetura de uma casa, em que, dentre todo o conjunto de cômodos, existe sempre uma área que se torna o centro, atraindo toda a energia e direcionando todas as atividades. Manter o corpo equilibrado significa ter uma boa postura “dos pés à cabeça”. Os exercícios reeducam nossa postura, para manter-nos em nosso “eixo”, que não é somente físico,
mas também mental e espiritual.

Coordenação motora e psicomotricidade

É a qualidade que está intimamente ligada à nossa capacidade física e mental, permitindo-nos assumir a consciência e a execução, levando à integração progressiva de aquisições, favorecendo a uma ação dos diversos grupos musculares na seqüência de movimentos, com o máximo de eficiência e economia. Atua também nas inter-relações harmônicas, que constituem a unidade do ser humano e sua convivência com os demais.

Postura

Quando falamos da postura de uma pessoa, logo pensamos em sua forma estética. Na prática do Taijutsu, os exercícios são destinados tanto à reeducação da postura externa quanto da interna. A postura de “adultos independentes” nos afasta da “criança” que carregamos dentro de nós, limitando-nos fisicamente. Na prática do Taijutsu, ter uma coluna flexível e saudável é fundamental, colaborando com a prevenção de muitas doenças.

Noção espacial

O Taijutsu é muitas vezes chamado de “A arte da distância”. Um mestre que domina seu espaço jamais será derrotado. A prática traz, com o tempo, essa noção de espaço, que acreditamos já dominar, mas estamos longe disso!

Estimulo sensitivo

“A maioria não vive, é vivenciado pelos acontecimentos”.
O cotidiano, juntamente com a falta de movimento (exercícios) nos torna seres robóticos e insensíveis. Os exercícios de estímulo sensitivo, juntamente com a gradativa reeducação e conscientização corporal, nos transformam em seres mais sensíveis aos pequenos sinais do corpo e gestos da vida, melhorando não somente os sentidos básicos, mas indo além deles.

Sentimento

Somos seres bipolarizados, integramos sempre “os dois lados da moeda”. Porém, queremos sempre viver o lado “claro” e ignorar o lado “escuro”, que existe e faz parte do universo que nos cerca. É impossível eliminar os sentimentos considerados ruins (medo, raiva, egoísmo, ansiedade, etc.) pois fazem parte importante de nosso íntimo. Devemos, sim, ser mais sensíveis
para aceitar, controlar e equilibrar nossos sentimentos.

Auto-observação

Ao desenvolvermos uma maior consciência de nosso corpo, com a prática dos exercícios, nos tornamos auto-observadores, tendo uma maior intimidade, percebendo e aceitando os sutis sinais que nosso corpo nos envia, nos policiando melhor e prevenindo os males à saúde.

Matéria da revista Fighter Magazine

Junan Taisô e Tairyôshin


O Junan Taisô (exercício de flexibilidade) contribui para conferir a habilidade e a sensibilidade necessárias para a prática segura do Taijutsu.

Através daquele, é obtida força exercitando os músculos e articulações, com o objetivo de acentuar sua flexibilidade e elasticidade naturalmente, sem exagero ou esforço demasiado, evitando assim eventuais distensões.

O Junan Taisô, juntamente com uma dieta equilibrada, proporciona um corpo flexível e forte, melhorando a saúde geral de forma natural, até mesmo em pessoas com idade avançada.

O Junan Taisô utiliza, entre outras técnicas, o Shin Kokyu Hô (técnicas de respiração profunda), Keikomae Zenshin Anma (massagem em todo o corpo antes do início do treino), Ryutai Undo Happô (oito maneiras de exercitar o “corpo dragão” - o termo Happô está relacionado a oito determinadas partes do corpo).

A prática auxilia no desenvolvimento da musculatura, da seguinte forma:

• Musculatura fraca – através de vigorosos exercícios repetitivos, os músculos enfraquecidos
pela falta de treino serão contraídos e relaxados de forma sistemática, levados a uma fadiga local ou geral, resultando em seu enrijecimento e fortalecimento;
• Musculatura retesada – torna-se mais flexível através de extensão relaxada, similar ao Yoga, que é caracterizada por postura sustentada durante um determinado tempo.

Juntamente com o ensino do Junan Taisô, o autor da presente obra ministra também, em sua escola (Urawaza Dôjô) o Tairyôshin (consciência corporal), método por ele desenvolvido como resultado da prática junto ao seu mestre, Sensei Rashid, que, por sua vez, é criador de um método denominado “Moco” (Movement Concept).

Segundo a máxima Ninja, o corpo é um manancial infinito de sabedoria. Assim sendo, o Tairyôshin tem como objetivo principal reeducá-lo, auxiliando a redescoberta do potencial natural deste, vindo, por conseqüência, a expandir a mente e a melhorar expressivamente a qualidade de vida do praticante.

Única academia na Baixada Santista




Inaugurado em 1986 pelo SENSEI Iraquiano INGO TALEB RASHID, o URAWAZA DÔJÔ foi a primeira academia do Brasil a transmitir os ensinamentos da NINPÔ TAIJUTSU.

Infelizmente até os dias atuais é a única academia da BAIXADA SANTISTA responsável pela prática e divulgação dos ensinamentos dessas tradições , dessa forma o Sensei Roberto Alves se empenha para divulgar e desenvolver ainda mais nosso trabalho .

URAWAZA BUGEIKAI

Av. Pedro Lessa, 1890 - Embaré - Santos

Ingo Taleb Rashid "Meu mestre"


Sensei Rashid nasceu no dia 02 de maio de 1963, no Iraque. Estudou na universidade de Munique, graduando-se em teatro, também estudou jornalismo e ciências políticas.
Muito jovem, ainda nos anos setenta, recebeu os ensinamentos da tradição da ordem de Naqshbandi Sufi (Ordem islâmica composta por onze princípios espirituais ensinados pelo Profeta Muhammad), primeiro de seu avô Septi Galib Taleb Rashid, e depois de seu pai Galib Achmed Taleb Rashid, ambos Sheikh (professores) da tradição Naqshbandi.
Iniciou-se muito cedo no aprendizado das artes marciais, tendo começado seus treinos de Judô com a idade de oito anos, praticando de 1972 a 1979 e entre 1981e 1982 em Bagdá, no Iraque. Por ocasião do início de seus treinos, por intermédio de seu Sensei de Judô, conheceu Itaro Toda Sensei, aluno direto do mestre Takamatsu, com o qual veio a aprender parte dos ensinamentos de Ninjutsu¸ no período de 72 a 75. Esse contato inicial despertou seu interesse por esta arte, culminando com sua viagem ao Japão, onde permaneceu durante os anos de 1984 e 1985, na localidade de Noda-shi. Ali, recebeu ensinamentos “diretamente da fonte”, de Hatsumi Sensei.
Em 1988, foi treinar com o Sensei Doron Navon em Tel Aviv, em Israel, que o instruiu em Ninjutsu e no método Feldenkreis, durante mais de dois anos.
Rashid Sensei foi também amigo pessoal de Imi Litchtenfeld, criador do sistema israelense de defesa pessoal denominado Krav Maga, de quem adquiriu grande conhecimento. Treinou também Capoeira, tendo visitado o Brasil em inúmeras oportunidades, desde o ano de1989, quando esteve pela primeira vez no país, treinando durante seis meses com o Mestre Gato, em Salvador/BA.
O conhecimento de Ninjutsu abriu alguns caminhos para o Sensei Rashid, permitindo que este trabalhasse como dublê em produções cinematográficas.
Sensei Rashid é, ainda, criador de um sistema denominado Movement Concept – Moco (conceito do movimento), que tem como objetivo otimizar o intelecto e o potencial físico do ser humano, auxiliando também no desenvolvimento espiritual.
Atualmente, viaja pelo mundo estudando as artes marciais e transmitindo seus conhecimentos.
Devido a uma série de contratempos, não foi possível para Sensei Rashid ter um número muito grande de alunos, tendo deixado apenas um adepto formado, o professor Roberto Alves, autor da presente obra, que se empenha em divulgar, desenvolver e dar continuidade ao seu trabalho.

Masaaki Hatsumi "O sucessor"




Nascido em 02 de dezembro de 1931 na cidade de Noda (ao norte de Tóquio), com o nome de Yoshiaki Hatsumi, que foi mudado posteriormente para Masaaki. Iniciou muito cedo nas artes marciais que se converteram em sua paixão, passando a treinar todas as que estavam em seu alcance: Judô, Karate (Shito Ryû e Zen Bei Butokukai), Kendô, Aikidô, Kobudo de Okinawa,
Jukendô (luta com fuzil e baioneta) e Kenpô chinês.
Na adolescência, treinou boxe e fez parte do clube de Judô e de arte dramática, sem contudo deixar de lado seus estudos.
Em 1951, aos 20 anos, enquanto estudava medicina, obteve o 4º Dan de Judô, juntamente com o 6º Dan em Shito Ryû Karate, conquistas muito raras para uma pessoa de tão pouca idade. Pouco depois, foi convidado a ministrar aulas de Judô em uma base do exército americano (Yokota Army Base). Durante o treinamento com os americanos, Hatsumi Sensei perceber o potencial dos soldados. Sua força e conhecimentos militares, somados à maior estatura, em comparação aos japoneses, fazia com que esses soldados, em relativamente pouco tempo de treino, saíssem vencedores dos confrontos. Isto fez com que o jovem Hatsumi questionasse seu próprio
treinamento. Assim, todo o amor que dedicava ao Budô, somado à preocupação surgida em razão dos fatos ocorridos, fizeram com que Sensei Hatsumi buscasse uma arte marcial que tivesse um real potencial de tornar a vitória em um combate independente de força ou estatura. Iniciou então sua busca por um mestre, que pudesse lhe ensinar uma forma de Budô que preenchesse este requisito.
Após ter treinado com vários professores de diferentes artes marciais, conheceu o Sensei Ueno Takashi, mestre em Kobujutsu (arte marcial antiga). Com sua típica dedicação, completou em três anos seus estudos de Kobujutsu Juhappan, ministrados pelo seu agora mestre Takashi. Foi assim instruído em Asayama Ichiden Ryû, Shindô Tenshi Ryû Kenpô, Bokuden Ryû, Kukishinden Ryû, Takagi Yoshin Ryû e Gyokushin Ryû. Após todo esse esforço e dedicação, seu mestre lhe entregou o Menkyo Kaiden, licença que atesta conhecimento geral da arte, e permite ensiná-la, o que Sensei Hastumi efetivamente fez durante algum tempo, ministrando aulas a um grupo
de alunos de Takashi Sensei em Noda.
O Sensei de Hatsumi, por sua vez, havia sido estudante de um renomado mestre de artes marciais, Toshitsugu Takamatsu. Assim, não tardou para que Hatsumi Sensei tivesse contato com este mestre. Aos 26 anos, em 1957, encontrou-o na cidade de Kashihara, ao leste de Osaka, próximo da região de Iga.
Hatsumi diz que o treinamento com Takamatsu era incrível, e aquele mestre mostrou algumas técnicas perfeitas, apesar da sua idade. Takamatsu Sensei começou a chamar seu pupilo de Byakuryu, que significa “dragão branco”, seguindo uma velha tradição, na qual todo guerreiro teria que ter o seu próprio Bugo (nome de guerreiro).

Depois da morte do mestre Takamatsu , Hatsumi somou a palavra “Oh” ao seu nome, como uma homenagem ao seu mestre, cujo nome também a ostentava. Isso lhe fez Byakuryuoh, “dragão branco honrado”. Desde então ele fez algumas mudanças em seu Bugo, como Tetsuzan (montanha de ferro), por exemplo, e é hoje conhecido pelo Bugo Hisamune (investigador eterno).
Três anos anteriores à sua morte, Takamatsu Sensei passou a tradição, o modo de vida e a herança direta de nove escolas marciais ao jovem Hatsumi. Assim, Masaaki Hatsumi tornou-se Sôke (sucessor) de nove escolas tradicionais.

O Dr. Masaaki Hatsumi é quiropratico (Honetzugi) formado pela Universidade Meiji, em Tóquio, respeitado adepto de Seikotsu (método natural de cura, parecido com a quiropatia). É escritor prolífico, autor de numerosos livros de filosofia e artes marciais, que foram traduzidos em vários idiomas; é também pintor, com inúmeras obras expostas em galerias de Nova York e Ginza (Japão). É, ainda, conselheiro renomado de artes marciais, tendo prestado assessoria em cenas de luta, e também atuando e dirigindo filmes de artes marciais para o cinema e televisão.
Em razão de seus incansáveis esforços objetivando espalhar a filosofia do Ninjutsu ao redor do mundo, obteve vasto reconhecimento, tendo recebido numerosos títulos e menções honoríficas, durante suas viagens aos cinco continentes, nas quais ministra seminários e divulga a arte.

Pode-se destacar duas recentes menções honoríficas importantes:
• Os prêmios honoríficos da família Imperial do Japão, Kokusai Eiyosho (prêmio de pesquisa internacional) e Shakai Bunka Korosho (prêmio ao serviço distinguido à sociedade e cultura). A realeza japonesa não somente reconheceu o Dr. Hatsumi como o grande mestre das tradições Ninja, como também o único representante vivo destas tradições no mundo.
• A Benção Apostólica pela Paz Mundial, concedida pelo Vaticano, firmada pelo Papa João Paulo II.
A despeito de todo esse reconhecimento internacional, Hatsumi Sensei prega a simplicidade, com a qual conduz sua vida. Ele constantemente ressalta a as vantagens de se viver uma vida Shizen (natural), seguindo a essência do estilo Ninja, em conformidade com as regras naturais da vida.

Em harmonia com a natureza


Uma das características que diferencia o treinamento da essência do Ninjutsu das outras disciplinas marciais é seu contato direto com a natureza. Hoje em dia, os praticantes de artes marciais limitam seus treinos ao ambiente do Dôjô (sala de aula). Essa limitação priva o adepto de desenvolver conceitos importantes, comuns nas Koryû (tradições antigas).
Dentro de uma sala, o adepto está protegido de muitos fatores que contribui para aguçar a sensibilidade e capacidade de sobrevivência. O treinamento no Dôjô nos dá uma falsa noção da realidade marcial, acomodando-nos em um caminho perigoso. Treinar com amigos, em local seguro e aconchegante, nos privará certamente de desenvolver e aguçar nossos sentidos.
Treinar em locais, além da sala de aula, em contato com o sol, chuva, vento, buracos, pedras, árvores, faz com que o praticante não se limite ao comodismo de um Dôjô, com seu confortável Tatami.
Com isso também, entenderemos como melhor utilizar o ambiente ao nosso favor em um combate, usando a luz do sol contra a visão do oponente, arremessá-lo contra uma rocha, forçá-lo a cair em um buraco no solo, são exemplos da habilidade, adquirida através do treinamento em locais diversos, de utilizar a natureza como aliada em uma batalha.
O contato do praticante com a natureza não se restringe ao treinamento ao ar livre. Segundo a filosofia oriental, todos os aspectos físicos da existência têm origem da mesma fonte, dividindo-se em cinco manifestações elementares principais (Godai), Chi (terra), Sui (água), Ka (fogo), Fu (vento) e Ku (o “vazio”), já comentados anteriormente. O estudo e utilização desses elementos visam o desenvolvimento físico, emocional, intelectual e espiritual do Ninja, transformando-o assim em um indivíduo mais equilibrado, mais consciente do poder pessoal e de suas responsabilidades no curso da vida.
Outro principio existente refere-se aos cinco elementos chineses (Gogyô), a qual vem dos ensinamentos taoístas (Dôkyo), o Onmyôdo (caminho do In e Yo, conhecido em chinês como Yin e Yang) ou também conhecido como Inyo Gogyô Setsu (teoria das cinco fases masculina e feminina). Esses ensinamentos místicos do Ninpô Taijutsu abordam um método para experimentar diretamente o que crêem ser a sabedoria das leis da natureza e da “consciência universal”. Segundo essa orientação, a observação da natureza com uma mente “não influenciada”, leva o ser humano a compreender melhor o seu mundo, qual sua posição em relação a ele e em conseqüência, conhecer a si mesmo. Acredita-se que do domínio dessas forças naturais é extraído o poder do Ninja de realizar tarefas que para os olhos “despreparados”, pareceriam poderes sobrenaturais.

Origem


Muitas são as teorias e versões sobre a origem do Ninjutsu, assim como o são os mitos, fantasias e exageros a seu respeito.
Não é possível constatar com exatidão a origem de uma arte que se desenvolveu no anonimato, e sobre a qual não existem quaisquer evidências documentadas, que eventualmente pudessem dar suporte a qualquer teoria específica. Sabe-se, porém, que inicialmente esta arte foi criada como uma forma, ainda que um tanto obscura, de reação contra os valores políticos, sociais e religiosos do Japão feudal, totalmente dominados pela elite Samurai. Daí a necessidade de ter se conservado durante séculos coberta pelo mistério e pela falta de clareza sobre sua história. Os guerreiros que posteriormente seriam chamados de Ninja não adotavam para si mesmos tal rótulo, conservando-se ocultos o máximo possível.
Há, todavia, uma certeza sobre a arte do Ninja: seu desenvolvimento não se deu da mesma maneira que as outras artes marciais. Deu-se de forma gradual, com absorção e mistura de vários traços culturais, principalmente religiosos e marciais, chineses e japoneses. Pode ser chamada de Kobujutsu (arte guerreira antiga), sendo considerada pouco convencional, tanto em sua prática quanto na sua filosofia. Conclui-se que o Ninjutsu foi provavelmente desenvolvido entre o século X e XIV, com a chegada de um expressivo número de imigrantes e de Samurai foragidos, cujos exércitos foram derrotados em batalhas, que procuraram refúgio nas selvas das remotas montanhas das regiões japonesas de Iga e Koga. Essa isolamento auto-imposto permitiu que esses grupos desenvolvessem técnicas de combate e outras artes, originando assim a arte Ninja.

Uma leitura imprescindível, para quem quer se aprofundar nessa arte, é a obra: "O Documento Secreto de Estratégia Shinobi." 
http://ninpeinohisho.blogspot.com.br/

Progresso do treinamento


Há determinadas etapas que o novo adepto deve passar, ao iniciar a prática do Taijutsu. Inicialmente, trabalha e “organiza” seu corpo com exercícios, preparando-se assim para iniciar a técnica do Kihon (fundamento, que será praticado para sempre, em qualquer nível técnico). Dominando a base, o praticante passará a preparar-se para assimilar as técnicas seguintes, adaptando-as à sua personalidade e particularidades físicas.

As etapas seguintes podem ser comparadas ao Godai (os cinco elementos da natureza, de acordo com a filosofia oriental):

1. Chi (Terra) – É a etapa que se concentra no desenvolvimento estrutural, trabalhando a base (Kihon) e Kamae (posturas). A atenção, nessa fase, é voltada à maneira como o corpo “responde”, e qual a sua capacidade. No principiante, isso é mostrado através de seu nível de dificuldade de Sabaki (esquivar-se) de um ataque.

2. Sui (Água) – Nessa etapa, é observada a capacidade de Sabaki, bem como a confiança na aplicação do Kihon. Maior atenção é dada à resposta do praticante à ação de seu atacante, com destaque à aplicação de defesa angular e contra-ataque.

3. Ka (Fogo) – Nessa fase é observada a habilidade de direcionar totalmente a energia ao combate, com controle e eficácia. Esta habilidade é manifestada pelo adepto pela tomada de iniciativa, adiantando-se no ataque.

4. Fu (Vento) – A habilidade observada nessa etapa é a facilidade para controlar o centro de energia relativo a cada situação de combate, e também a habilidade de dominar o oponente com
movimentos “fluidos” e evasivos. A habilidade do vento consiste, em outras palavras, em aproveitar os melhores momentos de ataque, mantendo-se ao mesmo tempo fora de alcance.

5. Ku (Vazio) – Para chegar nessa fase o praticante deve obrigatoriamente ter total domínio das quatro etapas anteriores, além de já ter atingido o Sanshin (estado de harmonia entre corpo, mente e espírito). A partir daí, são treinados o domínio do Shiki (consciência) e Ki (energia); é o momento do praticante encontrar seu próprio “mestre interior”.

A arte da resistência


Falar sobre artes marciais japonesas tradicionais em poucas páginas é uma tarefa um tanto complicada, especialmente quando se fala no misterioso Ninjutsu.

Buscarei, dessa forma, falar da maneira mais sucinta e eficiente possível. A falta de compreensão sobre as artes marciais clássicas, especialmente o Ninjutsu, é comum entre a maioria das pessoas, e são diversos os fatos que contribuem para isso: a cultura japonesa é, ainda nos dias atuais, pouco conhecida no ocidente; existe razoável dificuldade de encontrar uma academia de Budô clássico; há, de modo geral, maior familiaridade com as artes marciais contemporâneas e lutas esportivas, do que com as formas antigas de combate, que se diferenciam consideravelmente daquelas. A mídia em geral, através de filmes, livros, revistas e sites da Internet, também colabora negativamente, mostrando o Budô de maneira exagerada e superficial, em grande parte das vezes. Estas razões, entre muitas outras, levam muitas pessoas a pensar nas artes marciais, principalmente no Budô, de forma absolutamente errônea.